Para início de conversa...

Este é um espaço para divulgar e trocar informações sobre meio ambiente e diversidade sociocultural. A Amazônia possui uma biosociodiversidade singular em todo o planeta, suas florestas, seus animais, suas populações - caboclas, ribeirinhas, indígenas - traduzem o magnífico do ser, do viver e do fazer. Nosso dever, portanto, é de lutar por sua sustentabilidade, garantindo sua reprodução para as atuais e futuras gerações.

Rosiane Gonçalves
Socióloga, Antropóloga e Ambientalista



Semana dos povos indígenas chega a IV edição no estado do Pará

O evento acontece de de 18 e 25 de abril, de forma descentralizada, em Belém e nas aldeias

Debate virtual via web tv, conferência, rodas de conversa, mostra de filmes, exposições, oficinas, debates, e mediação virtual nas escolas e atos políticos com lideranças indígenas fazem parte da IV Semana Estadual dos Povos Indígenas, com o tema Nós Indígenas – Guardiões da Floresta. O evento acontece de de 18 e 25 de abril, de forma descentralizada, em Belém e nas aldeias indígenas.

O evento pretende destacar a presença dos povos indígenas no Estado, reafirmando para a sociedade o protagonismo dos povos indígenas enquanto agentes da nossa história. Além disso, possibilita a visibilidade de expressões culturais materiais e imateriais indígenas. O objetivo da IV SEPI é discutir a relação existente entre indígenas e não indígenas através de atos públicos, manifestações culturais, palestras, oficinas, mesas-redondas, exposições culturais, mostra de vídeos e atividades nas escolas de Educação Básica, envolvendo os povos indígenas e não indígenas do Estado do Pará. Haverá ainda vivências e oficinas voltadas para o público (indígena ou não) para fortalecer uma relação de conhecimento e reconhecimento das diferenças.

Em 2010, a IV Semana dos Povos Indígenas pautará a discussão de forma articulada em quatro eixos temáticos: Meio ambiente, sustentabilidade e produtividade; Educação, cultura e tecnologias; Saúde, segurança alimentar e habitação; Justiça, cidadania, direitos humanos e assistência social, que nortearão os debates nas aldeias e nos municípios com população indígena.

OFICINAS

Uma das marcas da Semana Estadual dos Povos Indígenas, desde a primeira edição é a transmissão de técnicas da linguagem audiovisual para estes povos. Desde 2007, várias oficinas foram realizadas com eles o e os próprios indígenas fizeram o registro das atividades que foram editadas em um documentário que será distribuído para as escolas públicas encartados no Catálogo do Circuito de Exposições Nós Indígenas. Material que será lançado durante a Semana. Neste ano, as oficinas de “Formação de documentaristas indígenas” serão realizadas nas aldeias Trocará (em Tucuruí) e Cateté (em Parauapebas). Durante o período de três dias, os indígenas vão desenvolver temas a partir de um aspecto étnico-cultural de suas realidades, importante para o enredo documental. Ao final das oficinas serão apresentados curtas e/ou minidocumentários criados por estes povos ao longo do processo de aprendizado e experiência com a linguagem audiovisual. Indígenas que foram capacitados durante o ano de 2009 vão prestar apoio técnico aos “novos documentaristas”.

PONTOS DE CULTURA INDÍGENA

Neste ano estão sendo implantados pontos de cultura nas aldeias Trocará (em Tucuruí) e Cateté (em Parauapebas). Cada Ponto receberá um kit multimídia composto de computador com acesso à internet de banda larga e placa de vídeo para edição, filmadora e fitas, além de outros equipamentos de áudio visual. A IV SEPI aproveita este momento e reforça a importância da comunicação como ferramenta de valorização cultural e de fortalecimento da identidade.

CIRCUITO DE EXPOSIÇÕES

No Museu do índio do Solar da Beira está aberta ao público a Mostra Fotógráfica “Asurini Araweté – Gente de Verdade”. Os fotógrafos paraenses João Ramid, Alberto Ampuero e Diana Figueroa, através de sessenta e sete fotos selecionadas retratam a vida, a arte, força e a cultura do povo Asurini do Xingu.

No Museu Paraense Emilio Goeldi será montada a exposição “Kayapó Mebengokre nhõ pyka” com o cotidiano, os fazeres e rituais do povo Kayapó Mebengokre. Para composição da exposição, três aldeias participaram do processo de produção: Moikarakoa, Las Casas e Kikretum, através de histórias contadas pelos mais velhos, confecção de flechas, artesanato e captação de imagens.

No Forte do Presépio será incluída no circuito a exposição com cerâmica primitiva e artefatos indígenas do Museu do Encontro na sala Gauaimiaba. A exposição reúne objetos em cerâmica tapajônica e marajoara, além da cultura material recolhida no próprio sítio histórico: fragmentos de cerâmica e porcelana, balas, moedas, etc.

No Museu Histórico do Estado do Pará – MHEP será aberta ao público a exposição “Sene Maeté – Espaço Sagrado” que simboliza o universo humano antepassado, as trocas culturais e o cenário atual vivenciado pelos povos ameríndios. A partir da diversidade visualizada no acervo arqueológico do período pré-colonial, colonial e histórico, além dos acervos documentais e etnográficos de instituições governamentais e de particulares, verifica-se que o tempo esta imbuído de História, Memória, Preservação, Transmissão de Conhecimento, Educação, Cultura, entre outros refletidos em objetos e imagens que fazem parte das ações e da cognição humana. Parte do acervo do 1ª Comissão Demarcadora de Limites será apresentada na Exposição de Acervos dos Povos Indígenas do Estado do MHEP Ainda No MHEP, será aberta ao público a exposição das pinturas do artista plástico indígena Pituku Waiãpi que foi diagnosticado com paralisia infantil aos 2 anos de idade e desde os 18, desenvolveu técnicas de pintura utilizando a boca para pintar seus quadros. Pituku nasceu na aldeia Amapari, terra indígena Waiãpi no Amapá. Em 1979, quando tinha apenas dois anos, foi diagnosticado com paralisia infantil e foi retirado da sua comunidade pela Funai. Passou a morar na Casa de Saúde Indígena, em Belém. O talento nato do artista o fez superar esse obstáculo, e ele usa a boca para produzir suas pinturas. Manuseando o pincel de uma forma diferente do convencional, o indígena desenvolve seus trabalhos desde 1996, quando ainda tinha 18 anos. O jeito para pintura ele descobriu no hospital Sara Kubitchek, em Brasília, aos 12 anos. Durante um tratamento, se viu frente a frente com tintas e pincéis e o estímulo fez com que ele começasse a recordar tudo o que havia vivido na sua aldeia. Desde então Pituku já participou de diversas exposições coletivas, individuais e salões no Maranhão e em São Paulo e hoje faz parte da Associação dos Pintores com os Pés e a Boca.

Na sede da Fundação Curro Velho, no Telégrafo, será aberta a mostra “Formas e Cores da Cultura dos Tembé”. A exposição reúne telas, objetos e artesanato produzidos pelos índios, na aldeia Teko Haw, localizada à margem esquerda do rio Gurupi, na divisa do Pará com o Maranhão. A exposição foi montada entre uma parceria do Instituto Goethe e Instituto de Artes do Pará

Na 1ª Comissão Demarcadora de Limites, a exposição “Fronteira Norte” mostra, através do acervo da CDL, as técnicas de aproximação com os povos indígenas que habitam as regiões de fronteira.

Ainda dentro do Circuito de Exposições será inserida a Igreja de Santo Alexandre que foi concluída em 1719 e era originalmente dedicada a São Francisco Xavier (atualmente é dedicada a Santo Alexandre). Nas primeiras décadas do século XVIII funcionou no colégio uma oficina de escultura dirigida pelo padre João Xavier Traer, que ensinou escultura aos indígenas. Segundo crônica do jesuíta João Daniel, do século XVIII, a igreja de Santo Alexandre se tornou a primeira obra de arte realizada por escultores indígenas no Brasil.

CATÁLOGO

Durante a IV SEPI será apresentado um catálogo com a produção artística e cultural indígena reunida no “Circuito Cultural Nós Indígenas”. Em 40 páginas, com textos, fotos e ilustrações, a publicação vai dar um panorama desta produção desde a era pré-colombiana até os dias de hoje. Um acervo de peças arqueológicas, artesanato, utensílios indígenas e outros representativos da ocupação portuguesa na região, como mapas, livros e objetos históricos. A publicação vai conter também um DVD com documentários produzidos pelos próprios povos indígenas sobre a I Conferência Estadual dos Povos Indígenas; I, II e III Semana do Povos Indígenas, e as duas Conferências Regionais de Educação Escolar Indígena realizadas no Estado do Pará.

Será produzido também um mapa de Povos e Terras Indígenas no Pará localizando além dos povos e terras, os municípios e regiões de integração para serem distribuídos aos estudantes indígenas e não indígenas da Educação Básica.

DEBATES

Um ciclo de debates também vai movimentar a IV SEPI. Durante todo o evento discussões sobre territórios etnoeducacionais indígenas, marcas da cultura indígena na sociedade contemporânea, políticas de assistência indigenista, meio ambiente e sustentabilidade serão realizadas em Belém. No dia 19 de abril, quando é comemorado o dia nacional do índio, será realizado o debate virtual “Grandes Projetos da Amazônia e os Impactos Socioculturais às Comunidades Indígenas”, que vai ser transmitido, via web TV para toda a Amazônia Legal. A Governadora Ana Júlia Carepa estará em Tucuruí, na aldeia Asurini, e vai participar do debate, juntamente com o Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

SERVIÇO
A abertura do evento acontece no dia 18 de abril, a partir das 18h, com a apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz e Indígenas dos povos Tembé, Asurini, Guarani, Kayapó e a participação de Liliane Xipaia; e a abertura do “Circuito Cultural Nós Indígenas”, um grande circuito de exposições de acervos indígenas que será montado com a finalidade de oferecer ao público um panorama completo da cultura indígena desde os primeiros contatos com os não indígenas até os tempos atuais.

Fonte: Diário do Pará.